quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

A experiência


Pq que a gnt tem o péssimo hábito de não ouvir a voz da experiência?
Minha irmã hj adolescente tem um certo gosto duvidoso. Duvidoso para mim pelo menos. Que olho pra ela e penso muitas vezes: “Oh meu Deus, tão bonita... e tão desleixada”.
Às vezes (quase sempre) ela me pergunta: “Padrinho, o que vc acha?!” E eu: “Ah não Lud”. E ela acaba indo do mesmo jeito (sempre).
Aí fiquei pensando: “gnt mas será que na minha época eu era assim?” Aí vejo umas fotos do passado e penso: “Meu Deus, não tinha ninguém pra me falar que tava horrível?!”.
Mas tinha. 
Minha mãe. 
Mas acontece que ela não é uma mãe só, ela é uma super mãe!
Ela me permitia errar. 
Lá em 2002 a moda eram as calças boca de sino, eu via algumas raras calças retas ou raríssimas tipo a skinny dos dias atuais e pensava: “Deus me livre de uma calça reta! Nunca que vou usar uma baranguice dessas!”. Todas as minhas calças tinham boca de sino. Todas! Inclusive quando minha mãe foi comprar o uniforme da escola nova, pedi a ela que comprasse duas calças de tectel ao invés de uma calça e uma bermuda, pq aí eu faria bermuda com uma das calças e aproveitaria a sobra para aumentar a boca da outra. Minha mãe falou: “Esse negócio não vai ficar bom não Diego!” E foi lá e fez como eu pedi. E hj eu me arrependo de não tê-la ouvido na época. Não pelo meu gosto pelas maravilhosas calça skinny de hoje em dia e total repulsa pelas calças boca de sino (“Deus me livre! Nunca que vou usar uma baranguice dessas!”), mas tbm pq na segunda-feira de estreia da minha calça com boca super de sino fui barrado no portão da escola pela diretora: “Isso não é o uniforme, por favor volte para casa e corrija isso!”.
Ela, minha mãe, sabia que não ia dar certo. Ela sabia que teria um problema. Mas ela me permitiu errar. Não para me envergonhar na frente dos alunos, nem pra me mimar, fazendo uma vontade adolescente minha, mas para me dar a oportunidade de ter a experiência do erro.
Ela é assim.
Ela quer o nosso melhor sempre. Ela não está só fazendo a nossa vontade. Ela está permitindo que construamos nossa personalidade, sobre acertos e sobre erros.
Ela não proíbe. Não obriga. Não mima.
Ela me permite experimentar a experiência.
Obrigado mãe.


segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

a luz branca


Entrei no ônibus. Sentei. Então não existia mais ninguém. Não existia a senhora que sentou ao meu lado. Não existia o casal que conversava freneticamente enquanto relava na senhora sentada ao meu lado. Não existiam as duas moças sentadas à frente. Ninguém.
Mas existia tanta gnt na minha mão. Gnt que amo. Gnt famosa. Gnt que nunca vi. Gnt que há muito tempo não vejo. Gnt da faculdade. Gnt do estágio. Gnt de João Pessoa. Gnt do Rio, mas que é de Jacareí. Gnt que fez teatro comigo em Sabará e tava comemorando a festa da escola que ela trabalha agora em BH. Gnt dentista. Tanta gnt. E ninguém. 
Guardei no bolso aquele monte de gnt de luz e dados. Encostei no vidro. Vi a senhora sentada ao meu lado. Vi o casal que ainda conversava freneticamente enquanto relava na senhora ao meu lado. Vi muitos pares de braços. Muitas duplas de cabeças. E não tinha ninguém.
Peguei o celular. A luz branca refletida pelo vidro escuro me fez olhar meu reflexo na paisagem vazia. Vi no reflexo as mãos da senhora ao meu lado. Guardei o celular.

Olhei para senhora ao meu lado, e no meio de um sorriso disse: Boa noite, tudo bem...